É Agosto em Portimão. O areal ainda não foi totalmente invadido por gente impertinente, sem respeito pelo espaço alheio. A maré está vazia e o mar, chão. A bandeira verde, hasteada há pouco, agita-se com a brisa de noroeste, que ganhará força de vento ao subir das águas. J. (chamemos-lhe assim, com uma inicial apenas, porque me pediu recato) não mo disse, mas eu imagino o que lhe vai na cabeça: se há momento para um nadador salvador ler um pouco em plena época alta, é este, quando há mais gaivotas em terra do que pessoas a banhos. A esses poucos basta, por enquanto, deitar o rabo do olho.
J. está a fazer-se leitor. Sabe que quando lê, põe a imaginação a trabalhar. Gosta de confirmá-lo nas idas ao cinema para ver os livros que passam a filme e concluir que na sua cabeça tudo foi muito mais longe do que lhe é oferecido no ecrã, porque a sua imaginação é mais forte. “Os livros transportam-me para outras dimensões, que são só minhas. É como se viajasse. E com tudo isso ganho conhecimento”, diz.
Leu, em tempos, os romances de Nicholas Sparks e a série d’ “As Cinquenta Sombras de Grey”. Recorda o gosto com que desbravou uma biografia de Steve Jobs. Até que o ano passado um amigo lhe recomendou “Travessuras da Menina Má”, de Mario Vargas Llosa, um livro que o levou a tomar contacto com outro tipo de escrita, mais exigente, como ele mesmo reconhece, mas da qual gostou muito porque o divertiu também. Há pouco tempo, cruzou-se com “Os Cadernos de Dom Rigoberto”, do mesmo autor. Achou interessante o que se dizia na contracapa e decidiu lê-lo. Estava apenas no início da história quando lhe fiz esta fotografia, prometendo um enquadramento tão discreto quanto os devaneios eróticos de Dom Rigoberto.