Já li — Seis Suspeitos

PORQUE LI?

Depois de “O Bibliófago e mais historietas breves” apeteceu-me continuar na ficção e deixei à minha espera Alain de Botton e Yuval Noah Harari. Fui à estante onde arrumo alguns dos livros que estão por ler e decidi passar os olhos pelos primeiros parágrafos de “Seis Suspeitos”. Não o larguei mais.

O QUE ACHEI?

Mas lembra-te — disse, levantando um dedo —, a nossa terra é estranha e sublime. Nela, podes encontrar as melhores pessoas do mundo e as piores. Podes experimentar uma bondade incomparável e testemunhar a crueldade mais extraordinária. Para sobreviver aqui, tens de mudar a tua maneira de pensar. Não confies em ninguém. Não contes com ninguém. Aqui estás inteiramente entregue a ti próprio.

Um livro que traça um retrato aterrador da Índia contemporânea, ainda que tudo venha embrulhado em muito sentido de humor, episódios caricatos, músicas de Bollywood e um tom transversal de entretenimento.

Sim, “Seis Suspeitos” entretém e lê-se facilmente, como quem vê um filme, e até arranca gargalhadas. Mas o que fica quando acabamos de lê-lo é um profundo sabor amargo. Porque a Índia de que nos fala Vikas Swarup é a Índia do crime violento, da corrupção generalizada, do tráfico de drogas e armas, das centenas de homicídios e violações por dia, do caos ambiental, da miséria extrema, do esfumar dos mais elementares valores humanos e do desrespeito absoluto pela vida. Tudo em função da fama, do poder e do dinheiro, que todos ambicionam alcançar — de preferência rapidamente, logo sem muito trabalho — e que uma vez obtidos parecem nunca ser suficientes.

Nada que seja exclusivo da Índia, dir-me-ão vocês com toda a razão! Nem nada que eu já não soubesse, não tanto por ter visitado a Índia duas vezes e ter visto muita coisa com os meus próprios olhos, mas mais por ter lido outros romances que traçam um cenário semelhante, nomeadamente “O Tigre Branco“, de Aravind Adiga. Porém, de cada vez que tomo consciência que a Índia caminha a passos largos para os 1.5 biliões de habitantes, a imagem que me ocorre é a de um gigante que segue desembestado. E acho essa imagem no mínimo assustadora…

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