PORQUE LI?
Porque tenciono ler tudo o que Alain de Botton publica, porque este livro estava na minha lista de leituras a fazer desde que foi editado em Portugal (em 2009), porque quis saber mais sobre Proust e porque um dia hei de ler os sete volumes que compõem “Em Busca do Tempo Perdido”.
O QUE ACHEI?
“O que é triste é que as pessoas estejam muito doentes ou tenham partido uma perna para terem a oportunidade de ler ‘Em Busca do Tempo Perdido’.” (Robert Proust, irmão de Marcel Proust)
Há catorze anos uma doença obrigou-me a um longo período de internamento. Lembro-me do dia em que telefonei a uma amiga para lhe dar conta do sucedido e de ela me ter dito que aquela seria uma boa oportunidade para ler o romance em vários tomos de Marcel Proust. Ri-me na altura, ainda me rio hoje sempre que recordo o episódio e ri-me muitíssimo quando descobri, neste livro de Alain de Botton, que o irmão de Marcel Proust, há cerca de cem anos, já pensava da mesma maneira!
A verdade é que não aproveitei aqueles onze meses de pausa forçada para seguir o conselho da minha amiga. Na época, preferi ler alguns clássicos, sim — “O Leopardo”, do Lampeduza, “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde e os “Contos Completos” de Nabokov, por exemplo —, mas não os sete volumes de “Em Busca do Tempo Perdido”. Agora que li e adorei “Como Proust Pode Mudar a Sua Vida”, e agora que os livros de Proust podem ser adquiridos por apenas 10€ cada um, acho que é ainda este ano que começo a empreitada.
Em “Como Proust Pode Mudar a Sua Vida”, Alain de Botton explora a vida e a obra-prima de Marcel Proust (que se entrosam) para daí retirar ensinamentos intemporais que podem, de facto, ajudar-nos a ver sob um novo ângulo assuntos também eles eternos: o amor, a amizade, a gestão e expressão das emoções (evitando os lugares-comuns), o sofrimento (através do qual, acredita Proust, se adquire sabedoria), a felicidade, a arte, a beleza e até o papel da leitura e o seu potencial terapêutico. Sim, o capítulo dois — “Como Lermos Para Nós Mesmos” — aborda claramente questões biblioterapêuticas.
Alain de Botton tem o dom de compor livros inteligentes, profundos, sumarentos e acessíveis à maioria dos leitores graças ao sentido de humor e elegante ironia com que escreve. Sem nos darmos conta, porque avançamos na leitura facilmente, estamos a aprender sobre a vida de um homem fascinante — Proust —, a ler uma espécie de crítica literária da sua obra maior e a confrontarmo-nos com uma série de questionamentos filosóficos e/ou existenciais que, no meu caso, ainda rumino.
Gostei, particularmente, dos últimos parágrafos de cada capítulo, onde Botton resume as lições aprendidas com Proust — esse burguesinho mimado e hipocondríaco, que nunca acalentou qualquer ambição profissional, que nada fez na vida a não ser interessar-se pela literatura e que, ainda assim, me conquistou.
A moral? Não deixem de ler!