PORQUE LI?
Sou fã do filósofo Alain de Botton: do que escreve, das palestras que profere, das entrevistas que dá, dos documentários que grava, dos projectos que funda — The School of Life e Living Architecure, entre outros — e da forma sabedora como incita os outros a conhecer-se melhor. Quando afirmo publicamente que Alain de Botton tem muita responsabilidade na volta que dei à minha vida nos últimos dois ou três anos, não estou a brincar.
Embora não tenha lido o seu primeiro romance — “Ensaios de Amor”, publicado em 1993 —, fiquei com muita vontade de ler “O Curso do Amor” assim que soube da sua publicação em inglês. Tive a sorte de comentá-lo com um amigo que tinha, entretanto, comprado a edição portuguesa e que me ofereceu o livro quando acabou de o ler.
O QUE ACHEI?
“Casamento: uma aposta esperançada, generosa, infinitamente bondosa, que fazem duas pessoas que não sabem ainda quem são ou quem poderá ser o outro, comprometendo-se a um futuro que não podem conceber e que cuidadosamente omitiram investigar.”
Enquanto que o romance “Ensaios de Amor” analisa as emoções de dois jovens amantes perdidamente apaixonados, “O Curso do Amor” explora o que acontece depois do casamento, isto é, a vida depois da paixão arrebatadora, o quotidiano.
Neste segundo romance seguimos a história de um casal, Rabih e Kirsten, e o relato dos desafios que ambos enfrentam enlaça-se constantemente com comentários filosóficos onde Alain de Botton nos ajuda a reflectir, numa abordagem sempre primática, sobre o que lemos. Dai o engenhoso título deste livro, onde a palavra “curso” assume dois sentidos: não só estamos a testemunhar o caminho que o amor leva depois do casamento, como estamos a assimilar várias lições, como quem frequenta um curso sobre o amor.
De novo, neste texto, o filósofo partilha connosco a sua profunda e vastíssima cultura numa linguagem simples, com muito sentido de humor, e num ritmo que nos impele a continuar a ler, a aprender e a reflectir sobre o amor — e sobre a nossa atitude perante o amor — quase sem esforço, de forma natural. E, nesse caminho, leva-nos ao encontro do lado luminoso do amor, mas sobretudo da sua faceta sombria, aquela que nos desafia verdadeiramente.
Os impulsos sexuais, os fetiches, o ideal romântico, as arrelias domésticas, os amuos, as fúrias, o peso da religião (que existe, quer queiramos quer não), a monogamia, a capacidade de comunicar e de ser bom ouvinte, os traumas do passado que transferimos para quem é objecto do nosso amor, o julgamento, a culpa, as acusações, as exigências, as aprendizagens, os filhos, a rotina, as finanças, o trabalho e a carreira ou a infidelidade são apenas algumas das muitas parcelas que compõem a equação complexa do amor e que Alain de Botton tão bem esmiúça neste seu romance. A sua sageza é imensa!
Uma leitura que recomendo a todos, homens e mulheres, casados há pouco ou muito tempo, solteiros convictos ou contrariados, e até aos que não acreditam no amor. Com “O Curso do Amor” podemos passar a olhar para o amor de forma diferente, reveladora e apaziguarmo-nos porque, como afirma o autor:
“Não precisamos de ser constantemente razoáveis para termos boas relações; só precisamos de ser senhores da capacidade ocasional de reconhecer de bom grado que podemos ser, numa ou duas áreas, um tanto doidos.”