Emily é inglesa, vive na Suécia e estava em trânsito no aeroporto de Copenhaga a caminho de uma visita à família no Reino Unido. Eu dava por terminada uma semana de visita à capital dinamarquesa e lia sentada num canto tranquilo enquanto esperava o meu voo de regresso a Portugal. Emily pediu licença para partilhar o mesmo banco, acomodou-se e puxou de um livro: “Today I’m Alice”.
“A minha irmã estuda psicologia e deixou um monte de livros no quarto. Escolhi este nem sei bem porquê. Eu estudo economia e política. Julgo que quis ler algo diferente dessas matérias. Este livro é difícil, porque é sobre abuso infantil, mas estou a gostar”, explicou-me Emily.
“O Inferno de Alice”, traduzido e editado em Portugal pela ASA, é um testemunho verídico, relatado na primeira pessoa por Alice Jamieson, que foi sexualmente abusada pelo pai desde os seis meses de idade. Em consequência desses abusos sistemáticos, Alice desenvolveu várias patologias do foro psiquiátrico: anorexia, perturbação obsessivo-compulsiva e transtorno de múltiplas personalidades.
“Leio sempre que posso e quando o faço prefiro romances a não ficção. E dentro dos romances, gosto particularmente quando a narração é feita na primeira pessoa e pela voz de uma criança. Por isso é que ‘O Quarto de Jack‘ é o meu livro preferido. Também gostei muito d’ ‘A Rapariga Que Roubava Livros’. Li-o quando tinha dez anos e foi o meu primeiro livro de adulto. Tinha algo de negro e lembro-me de chorar. Para mim, foi um momento de mudança na literatura.”
Quanto a “O Inferno de Alice”, Emily diz que recomendaria a sua leitura a estudantes de psicologia e a quem tenha tido vivido episódios traumáticos na infância. “A Autora explica no início do livro que é importante falarmos abertamente dos nossos traumas para que aqueles que também sofreram não se sintam sós. E eu acho que essa é uma das grandes razões que nos leva a ler, não nos sentirmos sós”.