PORQUE LI?
Foi um projecto profissional (do qual vos falarei certamente mais adiante) que colocou este livro no meu caminho. Seleccionei um conjunto de títulos de ficção que abordam a questão da tomada de decisão e depois de analisadas as diversas opções com o meu cliente, a escolha recaiu sobre o romance mais recente de Ian McEwan. O projecto implicou que também eu o lesse. Em vez de comprá-lo, requisitei-o na Biblioteca Municipal Florbela Espanca, em Matosinhos. Li-o em pouco mais de dois dias, aproveitando duas longas viagens de comboio.
O QUE ACHEI?
Serendipidade. Ando apaixonada por esta palavra. Diz o dicionário on-line da Porto editora que significa a “aptidão de atrair a si acontecimentos favoráveis de maneira fortuita; o dom de fazer boas descobertas ao acaso”. É a primeira expressão que me ocorre quando recordo a leitura d’ “A Balada de Adam Henry”, o meu primeiro Ian McEwan, que se revelou muito adequado ao momento que vivo.
Fiona Maye é um juíza bem sucedida, mas parece ter perdido o controlo à sua vida pessoal. Quando é chamada a decidir sobre o caso de um adolescente que se recusa a receber uma transfusão de sangue por razões religiosas, Fiona, habitual cumpridora com rigor dos deveres do seu ofício, pisa o risco e teme ter perdido, também, as rédeas à carreira profissional.
Apreciei particularmente como ao longo do romance se desenrolam em paralelo os dois planos de acção — a vida pessoal e a vida profissional de Fiona — e as linhas subtis que os unem constantemente. Também gostei das muitas referências a elementos de uma certa cultura clássica — o teatro, a literatura a música. E gostei muitíssimo da escrita de Ian McEwan que, sem hermetismos mas com uma linguagem riquíssima, constrói um romance curto, porém intenso, sobre algumas das maiores complexidades do ser humano e onde o esgrimir inteligente de argumentos nos estimula a olhar para certos assuntos de outra perspectiva.
Um romance muito bom ao alcance de qualquer leitor.