PORQUE LI?
Porque me foi oferecido pela Penguin Random House/Alfaguara, juntamente com “Flores”, por ocasião do meu encontro com o autor, Afonso Cruz, na última edição das Correntes d’Escritas. Levei-o comigo para Copenhaga, onde o mar é, à semelhança de Matosinhos (onde vivo), uma presença constante. Li-o num ápice.
O QUE ACHEI?
Já foram editados, desde 2009, cinco volumes da Enciclopédia da Estória Universal, um dos muitos projectos literários de Afonso Cruz. Explica a Alfaguara, numa nota discreta registada no fundo da contracapa, que se propõe, desta forma, a continuar o trabalho de um tal de Téophile Morel, que terá organizado esta mesma colecção ao longo de quarenta anos. Acontece que o Sr. Téophile Morel nunca existiu e a referência à sua pessoa é tão só o primeiro de muitos embustes divertidos a que leitor é submetido à medida que avança na leitura de “Mar”.
Eu que o diga, que me vi a pousar o livro diversas vezes para ir “googlar” supostos escritores, músicos, pintores — entre outras figuras que Afonso Cruz cita de forma muito credível —, para me deparar com resultados que me deixaram ainda mais confusa. Acabei por recorrer a um contacto na editora e o seu esclarecimento foi de encontro às minhas suspeitas: uma boa parte das pessoas citadas existem apenas na cabeça de Afonso Cruz e nas páginas deste livro.
Embora conhecesse a Enciclopédia da Estória Universal, nunca tinha tido um dos seus volumes nas mãos, pelo que a estrutura do livro, com múltiplas entradas por ordem alfabética relacionadas com o tema “Mar”, me surpreendeu. Alguns dos textos dessas entradas são curtíssimos, na verdade apenas aforismos ou provérbios; outros maiores, compostos por excertos de obras alheias (de autores que existem, mas de textos que nunca escreveram; e de autores que são mera ficção); e três muito mais extensos, como pequenas novelas.
Considero estes três textos o coração de “Mar” e nesse coração vivem personagens e palavras que ainda trago comigo, mais de duas semanas depois de terminada a leitura. Trago os seus nomes incomuns — Elijah-o-impossível, David-dos-Dentes, Moisés-que-adormece, Manuel da escuridão —, as suas provações (aquelas que só o mar sabe infligir), os seus amores.
Um livro de ficção num formato invulgar, com um conteúdo sedutor e envolvente. Perfeito para me aquecer nos dias muito frios de Abril que passei na Escandinávia.