Já li – Um Postal de Detroit

DetroitPORQUE LI?

A 11 de Setembro de 1985, pelas 18 horas e 37 minutos, no troço de via única que liga a estação de Nelas ao apeadeiro de Alcafache, deu-se a colisão de dois comboios — o Sud Express, que partira da esta~ão de Porto-Campanhã com dezassete minutos de atraso, e o Regional, proveniente da Guarda. Números oficiais referem 49 mortos e 64 desaparecidos. segundo os testemunhos de vários envolvidos nas operações de salvamento, é provável que tenham morrido cerca de 150 pessoas. É considerado o pior desastre da história dos Caminhos-de-Ferro Portugueses“.

Este é o primeiro parágrafo do novo romance de João Ricardo Pedro, “Um Postal de Detroit“. Nada como começar a lê-lo numa viagem de comboio entre o Porto e Lisboa… Foi-me oferecido pela LeYa/D. Quixote. Dir-vos-ei o que me pareceu em breve.

O QUE ACHEI?

Detesto não gostar de livros, sobretudo quando são de autores aclamados, manifestamente bons, que conheço e cujos livros anteriores tanto apreciei. Só há uma palavra que define com precisão como me sinto nestas ocasiões: burrinha.

Foi o que me aconteceu com o segundo romance de João Ricardo Pedro, “Um Postal de Detroit”. Sempre com Daniel Pennac em mente e o 3.º direito inalienável do leitor que formulou no livro “Como Um Romance” — o direito de não acabar um livro — persisti na leitura à espera daquele momento em que se faria o “clic”. Nunca aconteceu. A história não me aliciou, perdi-me na confusão de personagens, nas conexões entre elas, no peso que têm ou deixam de ter nos avanços e recuos da narrativa, na cronologia, nos diálogos surreais, nas pontas soltas que a investigação policial vai revelando e que não me levaram a qualquer conclusão, nas considerações sobre o futebol e o Sporting, no nonsense. Dei por mim a exercer o 2.º direito inalienável do leitor — o direito de saltar páginas (aquelas sobre o Sporting)… E tudo isto me incomoda porque o romance está muito bem escrito, gosto do estilo literário, gosto das palavras escolhidas com precisão e gosto do sentido de humor. Esta passagem, por exemplo, arrancou-me boas gargalhadas:

Lá dentro, duas mesas de snooker, uma mesa de bilhar, uma máquina de flippers, duas máquinas Arcade. Atrás do balcão, um empregado preto trocava moedas e servia bebidas engarrafadas, pacotes de amendoins, pistácios. Havia ainda duas mesas de madeira escura, repletas de inscrições obscenas. Era a uma dessas mesas que eles estavam sentados, e o meu pai, sem perguntar nada a ninguém, ficou a saber que Jojó era panasca, que a Lurdes chupava a piça ao Tó Zé, que o Leandro gostava dele grosso, que as bordas da cona da Tininha tinham musgo, que a Xana era puta, que Portugal era lindo”.

Adoro!

Talvez não tenha lido “Um Postal de Detroit” na melhor altura. Talvez me falte algum tipo de conhecimento, maturidade ou abertura para percebê-lo. Talvez um dia o releia. Mas desta vez, a experiência não foi boa, lamento…

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One thought on “Já li – Um Postal de Detroit

  1. Também já li UM POSTAL DE DETROIT, também tinha lido o primeiro livro de João Ricardo Pedro, também detesto não gostar de livros e também conheço o 3º direito inalienável do leitor, pese embora poucas vezes o tenha exercido. Acho que esperava mais deste livro, mas infelizmente, pelo menos no que a mim diz respeito, fiquei com uma sensação de ficar aquém de algo.

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