PORQUE LI?
Comprei-o em Fevereiro de 2014 para oferecê-lo a um amigo, mas deu-se o caso deste meu amigo já o ter lido (numa edição de bolso em inglês). Trouxe-o para casa e fiquei com ele. Sabia que mais tarde ou mais cedo, dado o meu interesse pela fotografia, acabaria por lê-lo também. Passados quase dois anos, fotografei Adnan a ler este conjunto de ensaios de Susan Sontag e decidi de imediato ir resgatar o livro à minha estante. Dêem-me mais uns dias e eu volto a este post para vos dizer o que achei.
O QUE ACHEI?
Os ensaios de Susan Sontag sobre fotografia foram originalmente editados em 1973, muito antes de quase todos os seres humanos andarem diariamente com câmaras de altíssima qualidade nos bolsos — aquelas câmaras que por acaso também fazem chamadas — e postarem milhões fotografias nas redes sociais a cada minuto, nomeadamente autorretratos.
Porque faleceu em 2004, aos 71 anos, Susan Sontag não teve oportunidade de reflectir sobre tudo o que mudou na nossa relação com a fotografia e tudo o que a fotografia mudou nas nossas vidas na última década. E embora até pudesse acontecer ela não se interessar sequer pelo assunto caso ainda vivesse, este foi o pensamento que me acompanhou na leitura dos seus ensaios: o que diria Susan Sontag dos ultra viciados em imagens em que todos nos tornámos?
Especulações à parte, este conjunto de ensaios mudou a forma como vejo o gesto ilusoriamente simples que é espreitar pelo visor e carregar no botão do obturador. Se estivermos dispostos a parar para pensar no que estamos a fazer, tirar uma fotografia é algo muito complexo. Por exemplo: a fotografia apenas regista a realidade ou interpreta-a? O fotógrafo é um agente passivo ou activo? A fotografia é uma prova incontroversa de que algo aconteceu? Que relação tem a consciência política com o efeito que uma fotografia pode ter em nós? Pode a fotografia valorizar qualquer coisa, tornar qualquer tema belo? Como foi a fotografia influenciada por determinadas correntes artísticas ou filosóficas? Que impacto tem a sociedade industrial e o capitalismo na fotografia e vice-versa? Que fotógrafos, através do seu trabalho, reagiram conscientemente a esse impacto? E que outros grandes escritores e ensaístas pensaram sobre a fotografia?
Não posso afirmar que os ensaios de Susan Sontag sejam de fácil leitura, mas estão longe de um grau de complexidade que os afaste dos leitores comuns. Sobretudo, não exigem qualquer grau de especialização em fotografia. A mim obrigaram-me muitas vezes a parar para pensar. E levaram-me também a fazer inúmeras pesquisas na net. Em resumo, aprendi muitíssimo e recomendarei sempre a leitura do livro a quem esteja disposto a conferir maior significado ao acto de fotografar.