Para além de querer visitar os países e territórios de língua oficial portuguesa, também queria dar a volta ao mundo. E uma vez que decidi começar a viagem pelo Brasil, contornar o globo implicava seguir para Timor-Leste atravessando o Pacífico. Ao pesquisar os voos para este troço da viagem, o percurso mais sedutor obrigava a uma escala em Sydney. E quem é que já não desejou um dia ir à Austrália? Eu fazia parte desse grupo de sonhadores. Por isso, rapidamente transformei a escala numa estadia de uma semana para poder formar uma primeira opinião (muito superficial, admito) acerca deste país-continente que está praticamente nos antípodas de Portugal. Sabia, e ainda sei, muito pouco sobre a Austrália. E acerca de Sydney ainda menos. Levava comigo esta imagem da cidade: a bela baía num dia de verão, pejada de barcos à vela que passam sob a ponte de ferro e frente à ópera que refulge ao sol. Ou a mesma baía, a mesma ponte e a mesma ópera numa versão noturna, no momento em que tudo explode em fogo de artifício e os australianos entram no novo ano quando eu ainda estou a almoçar. Cheguei a Sydney no fim de uma tarde de domingo e a cidade recebeu-me com chuva. Isso não impediu que tivesse gostado de imediato do que vi assim que o carro começou a percorrer as ruas do bairro adjacente ao aeroporto. Um bairro residencial de pequenas casas térreas com cercas e relvados. Para quem tinha vindo do Brasil, onde o povo vive enjaulado nas suas próprias habitações, circular por ruas e ruas de casas sem grades desapertou um nó que trazia no peito e do qual não me tinha apercebido. O dia seguinte, quando fui percorrer as ruas do centro da cidade pela primeira vez, reforçou a minha boa impressão. Sydney é uma espécie de mistura entre uma cidade europeia e uma cidade americana, como se tivesse ido buscar o melhor de Londres e de Nova Iorque. É um lugar sofisticado e requintado, mas depois tem aquele tom cool e relax que lhe é conferido pela proximidade do mar e pelo estilo de vida que a praia confere. Em duas palavras: fiquei fã! Depois de um breve reconhecimento dos pontos turísticos mais relevantes, o primeiro local onde passei mais tempo foi na Custom House, junto ao porto, um edifício antigo onde funcionam hoje em dia uma biblioteca pública, do rés do chão ao último piso, e um restaurante apenas no rés do chão. Na entrada, à direita, há uma área de leitura e uma receção. À esquerda a zona para leitura da imprensa, onde estão disponíveis jornais e revistas australianos e de outras regiões do mundo. Ao fundo estão os computadores para acesso livre à Internet. E o centro é quase todo ocupado por uma maquete de Sydney em grande escala que fica sob o nossos pés e sobre a qual podemos caminhar, já que aí o piso é todo de vidro. Por volta das 13h o piso inferior da biblioteca estava cheio. Uma turma em visita de estudo apreciava Sydney em miniatura com espanto e havia utentes sentados em toda a parte. Um deles era o Mario, que trabalha numa companhia de ferries na zona do porto e que vai à biblioteca todos os dias à hora de almoço para evadir-se e relaxar. Lia “The Mortal Instruments — City of Bones” (em português, “Caçadores de Sombras — A Cidade dos Ossos“, de Cassandra Claire, uma série de cinco volumes que a filha leu e que achou fantástica. “Ela insistiu tanto para que eu os lesse que decidi ler o primeiro capítulo da saga só para lhe fazer a vontade e não consegui para de ler. Agora tenho mais quatro livros pela frente”, explicou-me satisfeito.