A história é sobejamente conhecida. No fim da década de 30 do século passado, a família Herz chega ao Brasil para escapar à fúria do Terceiro Reich. Em São Paulo encontram uma comunidade alemã sedenta de livros no seu idioma e a matriarca da família, Eva, começa a alugar os poucos volumes que tinha levado consigo para a outra margem do Atlântico. Aos poucos, o acervo de livros disponíveis, quer em alemão quer em português começa a crescer e o negócio que tinha começado em casa muda-se para um espaço comercial. Em 1947 é formalmente fundada a Livraria Cultura, uma referência no panorama empresarial e cultural do país. No meu périplo pelo Brasil, já tinha tido a oportunidade de visitar outras livrarias Cultura, mas a que eu mais queria conhecer era a loja de São Paulo que fica no Conjunto Nacional, um edifício na Avenida Paulista, e que é a maior livraria do país, com uns impressionantes 4.300 m2. Mal entrei, parecia uma criança numa loja de doces: havia tanta gente, mas tanta gente a ler nos mais variados cantos da livraria que nem sabia a quem pedir uma fotografia. Decidi vaguear um pouco pelo espaço, até que vi uma jovem que lia sentada na barriga do grande dragão em madeira que decora a área de livros infantojuvenis. A Isis é doutoranda em linguística, por isso tem de ler muito sobre a sua área de estudo, mas o livro que lia quando a abordei era, nas suas palavras, “um momento de lazer, um momento para esvaziar a cabeça de tanta teoria e voltar a encará-la mais tarde com outro olhar“. A sua atenção estava focada em “Inteligência — A Resposta Criativa no Agora“, uma obra de Osho de quem tenta ler todos os livros que encontra. Não me soube explicar exactamente por que razão o tinha escolhido, apenas “queria ver como é que Osho vê a inteligência que não surge do ponto de vista do intelecto, mas sim a inteligência que já nasce com o ser humano, a inteligência mais ligada à sabedoria.” Para além de Osho, a Isis é leitora assídua dos textos de Yogananda, mas a sua preferência literária vai definitivamente para os autores brasileiros, nomeadamente Machado de Assis, Cecília Meireles e Monteiro Lobato. E destacou, também o seu gosto pela literatura infantil com a qual está relacionada a sua tese de mestrado. Foi então que percebi porque se encontrava a Isis na barriga do dragão.
Podem ver mais fotos desta leitora e da livraria aqui.
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