Salvador da Bahia — Albérico & a Bíblia

 
Cheguei à Igreja do Senhor do Bonfim a tempo de ouvir os últimos acordes da música tocada durante a missa. O sol estava a pôr-se. Era a minha terceira visita. Já cá tinha estado em duas viagens anteriores. Contudo, é sempre com espanto que se admira a fachada do monumento e a paisagem sobre Salvador vista deste morro bem alto. Um fim de dia perfeito prestes a tornar-se ainda mais perfeito: na paragem de táxis em frente à igreja vejo o Albérico com um livro nas mãos e quando me aproximo para lhe perguntar o que lê diz-me que é a Bíblia. A Bíblia, finalmente! O livro dos livros. Aquele que, pela sua carga histórica e simbólica, eu mais queria fotografar. “Sou católico não praticante”, explicou-me, “mas a minha família é, vai na missa todo o dia. Eu vou na missa esporadicamente. Os meus pais eram bastante católicos. Fui criado dentro da igreja”. Eu também costumo dizer que sou católica não praticante, mas perante o que o Albérico me contou depois, o meu catolicismo ficou reduzido a nada. Porque embora não praticante, o Albérico lê diariamente e sem falta a pagela do Sr. do Bonfim, um salmo e o evangelho (naquele dia: Lucas, capítulo 11; versículos 29 a 32). Depois faz a oração do mês (março), do dia (sempre a S. Jorge) e a novena. “Mas veja só a coincidência de ter vindo falar comigo” disse, “as pagelas trazem sempre um pensamento e o de hoje diz o seguinte: A pessoa que não lê bons livros não tem nenhuma vantagem sobre a pessoa que não sabe ler“. E a mim pareceu-me quase milagroso que uma citação de Mark Twain sobre a leitura surgisse magistralmente para rematar a nossa conversa. Uma conversa a propósito da Bíblia, o livro primeiro. Obrigada Senhor do Bonfim. 

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