Vaguear sem destino. Era só isso que queria fazer naquele domingo. E, se possível, fotografar alguns leitores. Tínham-me dito na véspera que não é muito comum ver gente a ler pelas ruas de Barcelona, porque os espaços públicos — jardins, esplanadas, cafés — são ocupados por grupos em busca de convívio, não de leitura. Saí de casa, ainda assim, com a esperança de conseguir conteúdo para o Acordo Fotográfico, mas acima de tudo feliz por rever a cidade onde passei uma semana de férias memorável há 15 anos e à qual nunca mais tinha voltado. Do bairro de Saint Antoni dirigi-me à Plaça de Catalunya e daí desci a Rambla, onde parei sensivelmente a meio para un café con leche y churros con Nutella. Lá em baixo, na Plaça Colom e já com o Mediterrâneo à minha frente, decidi cortar à esquerda e seguir até ao Parc de la Ciutadella. Aí encontrei o esperado para uma manhã de sol radioso: famílias a passear, gente a fazer exercício físico, artistas de rua a entreter quem passava, turistas e… um leitor!
Victor, que é chef, lê regularmente e diz preferir livros de ficção científica. No entanto, encontrei-o a ler algo bem distinto, uma obra particularmente sumarenta para quem exerce a sua profissão — “Confesiones de Un Chef“, a biografia de Anthony Bourdin que revela toda a verdade sobre a vida na cozinha e o submundo da restauração. O livro foi-lhe oferecido por uma amiga, também ela chef, e embora tivesse lido muito pouco, Victor deduzia que não ficaria desiludido com o que lhe reservavam as páginas seguintes: sexo, drogas, mau comportamento e grande cozinha.